Blog Layout

CLIPAGEM x EMBOLIZAÇÃO: Qual o melhor tratamento para os aneurismas cerebrais

Dr. Djalma Menéndez • 20 de setembro de 2021

Após o diagnóstico de um aneurisma cerebral, seja ele incidental ou roto, surge a grande discussão sobre qual modalidade de tratamento escolher. Este é um assunto que há anos é debatido entre especialistas e motivo de investigação científica em todo o mundo, e provavelmente o motivo que te levou a ler este artigo.

 

O objetivo de tratar o aneurisma será excluí-lo da circulação sanguínea e evitar o seu sangramento com suas graves repercussões. Concomitante, é necessário prezar pela segurança do paciente, com menores riscos de complicações relacionadas à modalidade de tratamento escolhida, e, quando possível, tratar este aneurisma de forma definitiva a fim de evitar sua recidiva.


OPÇÕES ATUAIS DE TRATAMENTO DOS ANEURISMAS CEREBRAIS

Só existem duas formas de tratamento: pela via endovascular (embolização/stent) ou pela via cirúrgica (clipagem).


ENDOVASCULAR:

Através de uma punção em uma artéria na virilha, semelhante ao cateterismo cardíaco, é introduzido um longo cateter até alcançar o local do aneurisma. Neste ponto, o médico dispõe de diferentes materiais para realizar o tratamento da lesão.

 

Uma das formas consiste na colocação de uma espécie de espirais metálicas que chamamos de molas ou coils no interior do saco aneurismático. Esta técnica é conhecida como EMBOLIZAÇÃO.

 

Outras técnicas também podem ser empregadas de forma isolada ou combinadas com as molas. É o caso da utilização de stents, que funcionam como uma malha para redirecionar o fluxo de sangue dentro do vaso, ou mesmo apoiar as molas para melhor compactação no interior do aneurisma.

 

CLIPAGEM (MICROCIRURGIA):

Por esta técnica é realizado um acesso direto através do crânio, conhecida como craniotomia, que pode variar conforme a localização do aneurisma. A seguir, inicia-se a etapa mais delicada e precisa que é a microcirurgia.

 

Esta forma de tratamento é exclusivamente realizada pelo neurocirurgião com o auxílio de um microscópio cirúrgico de alta resolução. Os espaços naturais já existentes no cérebro são aproveitados, como verdadeiros corredores cirúrgicos, e o aneurisma pode ser minuciosamente identificado, bem como todas as suas relações com estruturas cerebrais vizinhas.

 

A seguir, é colocado na base do aneurisma, também chamado de colo, um clipe metálico (CLIPAGEM) de forte tensão. Assim, o sangue seguirá pelo vaso principal normal sem mais encher o aneurisma, anulando o risco de um sangramento.

A) Stent colocado no interior da artéria por técnica endovascular; B) Aneurisma tratado por embolização com molas; C) Clipagem microcirúrgica com aplicação de um clip metálico de forte tensão no colo do aneurisma.


UM POUCO DE HISTÓRIA

A clipagem microcirúrgica é a técnica mais tradicional, utilizada durante décadas como o único tratamento disponível. O primeiro aneurisma clipado data do ano de 1938, por Walter Dandy, com grande avanço a partir da década de 60 através da introdução dos conceitos de microcirurgia pelo Prof. Yasargil.

 

Já as técnicas de embolização como conhecemos hoje, começaram a se aprimorar de forma mais significativa a partir da década de 90, muito embora a angiografia como método diagnóstico tenha começado em 1927 com Egas Moniz. Porém é fato que nos últimos anos houve uma tendência cada vez maior de tratar os aneurismas pela técnica endovascular.


O QUE DIZEM OS ESTUDOS CIENTÍFICOS?

Agora que você já entendeu as duas formas de tratar um aneurisma cerebral, deve estar se perguntando qual a melhor técnica, correto?

 

A literatura científica não é unânime de qual técnica é a melhor. Estudos mostram melhores resultados para cada um dos métodos, em diversas situações distintas.

 

De maneira geral, os maiores estudos científicos mostram que, no longo prazo, o tratamento cirúrgico através da clipagem tem menor chance de recanalização do aneurisma. Isto é, a clipagem tem menor chance do aneurisma recidivar e encher de sangue outra vez.

 

Entretanto, quando se avalia o risco dos procedimentos e complicações, a maioria dos estudos mostra que o risco do tratamento endovascular é um pouco menor que o risco do tratamento cirúrgico.


PORÉM É CONSENSO QUE AMBOS OS MÉTODOS SÃO FACTÍVEIS PARA TRATAR UM ANEURISMA INTRACRANIANO DE FORMA SATISFATÓRIA.

Atualmente, as duas técnicas são necessárias e não são mutualmente exclusivas. Há aneurismas que são melhor tratados pela cirurgia e outros por endovascular. A chave do sucesso é a segurança do paciente aliada a efetividade do tratamento de forma individualizada.


VANTAGENS E DESVANTAGENS

A grande vantagem de tratar um aneurisma por via endovascular reside no menor tempo de internação, menor tempo do procedimento, recuperação mais rápida e alta hospitalar precoce.

 

Entretanto, pelo maior risco de recidiva (recanalização), o paciente que tratou um aneurisma por este método deverá ter uma monitorização com exames periódicos de forma mais rigorosa. Além disso, alguns casos precisará usar medicações anti-agregantes plaquetários por tempo indeterminado. 

 

A microcirurgia para clipagem do aneurisma envolve um ato cirúrgico mais complexo, através de uma cirurgia “aberta”, com necessidade de um tempo de internação hospitalar um pouco maior e mais riscos após o procedimento. Mas apresenta maior durabilidade na oclusão do aneurisma no longo prazo.


FATORES DETERMINANTES NA ESCOLHA ENTRE A CLIPAGEM X EMBOLIZAÇÃO?

Ambos os métodos quando bem indicados e bem executados apresentam altas taxas de resolução. Os principais fatores que serão determinantes na escolha de cada um dos métodos são:

 

Condições Relacionadas ao Paciente:


  • Idade e doenças pré-existentes (comorbidades)
  • Expectativa de vida do paciente
  • Desejo do paciente
  • Aneurisma recidivado

 

Condições Relacionadas ao Aneurisma:


  • Localização do aneurisma dentro do cérebro
  • Formato e tamanho do aneurisma
  • Tamanho da base (colo) do aneurisma
  • Presença de calcificações na parede do aneurisma ou trombos no seu interior
  • Múltiplos aneurismas

 

Condições Relacionadas ao Médico/Hospital:


  • Experiência do médico que irá executar o tratamento
  • Estrutura e recursos disponíveis no hospital que será feito o tratamento e cuidados pós-procedimento (UTI)

 

 

Assim existem aneurismas que serão melhores para tratamento por cirurgia (clipagem), outros por endovascular (embolização) e um terceiro grupo onde os 2 métodos poderão ser utilizados.


 

Vejamos alguns exemplos:


Se o paciente é jovem, ele precisará ser tratado de forma que o tratamento dure por um período longo, devido a expectativa de vida, com menores taxas de recidiva. Logo, temos uma certa preferência pela cirurgia.

 

Já a embolização aparenta ter uma maior taxa de recidiva, o que no paciente mais idoso talvez não seja um problema, pois não haverá tempo hábil para crescimento/recidiva.

 

Aneurismas de uma região chamada circulação posterior, a preferência será pela técnica endovascular. Assim como, aneurismas rotos com paciente em grave estado clínico, a preferência será também pela embolização.

 

Já aneurismas múltiplos, aneurismas de artéria cerebral média, aneurismas de tamanho grande com efeito compressivo, ou aneurismas rotos associados a hematoma intracerebral a preferência será pela cirurgia.

 

Estes são alguns exemplos das inúmeras possibilidades existentes, o que mostra a decisão individualizada para cada caso.


TAKE HOME MESSAGE

O objetivo do tratamento de um paciente com um aneurisma intracraniano específico é prover maior segurança, maior eficácia e maior durabilidade no tratamento com o menor risco associado possível.


Não se trata de uma competição entre CLIPAGEM x EMBOLIZAÇÃO, mas de duas diferentes ferramentas que podem ser utilizadas para tratar a mesma condição.


A verdadeira competição que deve existir é: MODALIDADES DE TRATAMENTO DISPONÍVEIS x ANEURISMA CEREBRAL.


Por isso, é importante procurar sempre um especialista da sua confiança! Ele irá avaliar cada caso e decidirá junto com o paciente a melhor forma de tratar um aneurisma cerebral.

FONTES:

Spetzler RF, et al. Ten-year analysis of saccular aneurysms in the Barrow Ruptured Aneurysm Trial. J Neurosurg. 2019 Mar 8;132(3):771-776. doi: 10.3171/2018.8.JNS181846.

 

Molyneux AJ, et al. The durability of endovascular coiling versus neurosurgical clipping of ruptured cerebral aneurysms: 18 year follow-up of the UK cohort of the International Subarachnoid Aneurysm Trial (ISAT). Lancet. 2015 Feb 21;385(9969):691-7. doi: 10.1016/S0140-6736(14)60975-2.

 

Wiebers DO, et al. International Study of Unruptured Intracranial Aneurysms Investigators. Unruptured intracranial aneurysms: natural history, clinical outcome, and risks of surgical and endovascular treatment. Lancet. 2003 Jul 12;362(9378):103-10. doi: 10.1016/s0140-6736(03)13860-3.

Dr. Djalma Menéndez

metástase cerebral
9 de janeiro de 2023
Metástase cerebral? Leia esse artigo e entenda quando a cirurgia é indicada, como ela é feita e se há necessidade de combinação com outros tratamentos.
gliomas
Por Dr. Djalma Menéndez 2 de julho de 2022
Um dos principais tipos de tumores que acometem o cérebro, conheça mais sobre os gliomas, seus principais tipos e sintomas que podem causar.
o que é mav cerebral
Por Dr. Djalma Menéndez 2 de julho de 2022
MAVs cerebrais são malformações congênitas que podem causar alterações neurológicas, crises convulsivas e até mesmo causar um derrame. Saiba mais.
aneurisma cerebral cirurgia
Por Dr. Djalma Menéndez 2 de julho de 2022
A cirurgia para tratar um aneurisma cerebral é um procedimento delicado, cheio de detalhes técnicos e envolve trabalho em equipe. Veja aqui como é feita!
tumores de hipófise
Por Dr. Djalma Menéndez 2 de julho de 2022
Uma das principais formas de apresentação dos tumores de hipófise é a perda de visão. Entenda aqui os motivos para isso e descubra mais sobre a doença.
cavernoma sintomas
Por Dr. Djalma Menéndez 2 de julho de 2022
Embora sejam raros, os cavernomas são o segundo tipo mais comum de malformação vascular no sistema nervoso. Saiba aqui os principais sintomas de um cavernoma.
aneurisma cerebral o que é
Por Dr. Djalma Menéndez 2 de julho de 2022
Neste post, vamos explicar o que é aneurisma cerebral, explorando seus fatores de risco e sintomas. Clique aqui e saiba mais sobre o assunto!
Share by: